sábado, 29 de novembro de 2008

Extra Extra, mais mentiras!!!


Dizem no feudo que, quando um mentiroso ilustre morre, é recebido pessoalmente pelo capeta com um pepino e um martelo pra comemorar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Lista das Cabeças Cortadas (parte 3)

Seguiu adiante e chamou pelo monarca, sua voz ecoou pela enorme e vazia biblioteca. Por algum momento não houve resposta, continuou caminhando até chegar a um corredor de onde se podia distinguir uma voz bem fraca que vinha de uma porta lá no fim deste. Caminhou apressadamente e sem receio, reconhecia o som, era a voz de seu futuro senhor, se fosse um cão correria de língua pra fora e balançando o rabo, mas era menos que isso, era um cargo comissionado. Parou emocionado ao lado da porta, carregava em seus braços, como quem exibe um troféu conquistado a duras penas, a lista das cabeças cortadas. Quem está aí? Perguntou o regente biônico. Sou eu, o bobo respondeu com voz de humorista fracassado e completou, sou eu o seu servo mais humilde e devotado, e trago para o senhor algo de extrema necessidade neste momento. O reizinho entreabriu a porta de seus aposentos e sem sair deste, ergueu seu obeso braço de quem não está acostumado a carregar as coisas pra si mesmo e tomou a lista das mãos do orgulhoso bobo da côrte. Como tem muita, mas muita preguiça de ler, lembrem-se de sua biblioteca, olhou aliviado para a lista e emplastou-a em seu gordo traseiro sujo, e sem agradecer ficou aliviado pois havia meia hora que chamava seus lacaios para lhe trazerem papel higiênico, e estes ocupados com a baderna generalizada que se formara no bairro ignoravam seus apelos.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A Lista das Cabeças Cortadas (parte 2)

Cada bobo, ao mesmo tempo em que tentava salvaguardar seu manuscrito, tentava desesperadamente fuxicar o do outro pra ver se, por acaso, seu nome não estava por ali. Foi um espetáculo tragicômico, ninguém sabe ao certo, como a confusão maior começou, se foi quando um dos bobos tentou furar o bloqueio da guarda pessoal do rei, ou se foi quando um pierrô discutiu com um palhaço ao ver sua alcunha gravada no rol do afetado clown. Bom, só se sabe que a pancadaria foi geral, narizes vermelhos voavam por todos os lados, chapéus de três pontas rolavam no chão, maquiagens mesclavam-se com sangue, enquanto uma chuva de papel picado cobria a todos, alguns palhaços aproveitaram o clima de muita testosterona no ar para acasalarem-se. Assim, sem saber, o nosso bobo participava da primeira micareta da história. Aproveitando o caos instaurado, nosso bobo burlou a segurança pessoal do reizinho e adentrou voluptuosamente seus aposentos. Deparou-se com um incrível salão e uma biblioteca anexa que continha dois livros de colorir, um plano de governo em branco e uma bíblia autografada pela associação de pastores inquisidores.

continua...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A SAGA DA LISTA DAS CABEÇAS CORTADAS

Reza a lenda que, certa vez, um dos incontáveis bobos da côrte redigiu um rol, contendo ali o nome de apóstatas e hereges do feudo, para apresentar ao próximo regente na dinastia. O vil bufão, o bobo da côrte, não o regente, bateu de porta em porta, fuxicou viela por viela, esquadrinhou testículo por testículo e sua lista foi crescendo de maneira descomunal. Acreditava ele, e talvez tivesse razão, que se apresentasse, em uma bandeja, as cabeças dos traidores e conspiradores, poderia garantir ali uma possível ascensão hierárquica na administração municipal do feudo. Certa feita, com a listagem em mãos, rumou para a residência do futuro déspota. Ao dobrar a esquina que dava pra rua do regente, deparou-se com uma incrível cena, uma multidão, contendo as mais variadas versões de bobos da corte, cercava a casa do supracitado monarca, e pasmem, todos eles portavam, protegidas entre os braços cruzados sobre o peito, pergaminhos, contendo o nome de possíveis inimigos do rei.

continua...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Maçãs para as brancas de leve

Como aparecem bonitos os futuros regentes nas xilogravuras dos tablóides, como parecem viris. Como permanecem idôneos aos xerifes, os déspotas, e como se tornam capangas de déspotas, os xerifes. Assim seguem estas duas instituições, imprensa e justiça, como teúdas manteúdas do poder, endossando a covardia, fazendo a vida aborígene seguir como se nada de podre houvesse no reino. Desta maneira uma falsa tranqüilidade envenena o sonho deste povo belo adormecido. Enquanto as bruxas do poder distribuem suas lindas maçãs de porta em porta, de banca em banca, de igreja em igreja, de cargo em cargo.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Além mar

O atual senhor feudal de Angra costuma viajar assiduamente para outros reinos além mar. Lá se impressiona com a evolução alcançada. O desenvolvimento da educação, os investimentos na cultura e na pesquisa científica, a cidadania, o combate à corrupção, o estado desligado da religião, enfim, quase uma utopia, algo caminhando em direção ao melhor, o oposto do que ocorre em seus domínios.
Toda vez que ele chega la´, o que é quase sempre, admira-se, fica encantado, a inveja consome seu coração e uma pergunta persegue incansavelmente seus calcanhares desacostumados a carregar seu próprio peso. Porque meu feudo não é assim? E do fundo de sua mente, desacostumada a divagações filosóficas, surge uma resposta: por sua causa seu porco imundo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Máquina do contra-tempo

Fiz uma descoberta incrível hoje, surpreendente. Logo eu, um viajante do tempo que achava não me assustar com mais nada, estou pasmo. Meu queixo jaz caído ao chão. Angra é uma grande máquina do tempo, isso mesmo, a maior máquina do tempo já construída por alguém. E o pior, alguém sem o menor conhecimento técnico sobre o assunto. Só que esta é uma máquina diferente das outras, ela só anda pra trás.

É logo ali, depois do bom senso

Aqui nada se criou, tudo se deformou. Criatividade é tratada a pedradas no feudo, livre pensamento é heresia. Aliás, heresia é o que mais se tem por aqui. Pensamentos quase não vingam, os incompetentes abafam qualquer tentativa de capacitação, logicamente para manter suas desmerecidas posições. Assim a população se esbalda nos falsos milagres, conquistando favores através de comprometimentos politiqueiros, vendendo o pouco que resta de suas almas pra morar em um dos casebres superfaturados na periferia do conhecimento, no centro das superstições. E no fim graças deus.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

MODERNA MANTA ASFÁLTICA DO FUTURO

É muito fácil enganar zumbis medievais, basta decorar uma praça e eles enxergam ali uma realização, basta trocar os velhos calçamentos de uma via pela moderna manta asfáltica do futuro, que eles vislumbram ali o progresso. Enquanto isso seus filhos são seduzidos pelo tráfico, pela inquisição e pela gravidez precoce graças à péssima qualidade da educação oferecida. Bom, é assim que se fabricam mais zumbis. O feudo é assim, só sobrevive empurrando o conhecimento pra baixo do tapete. Quando o bom senso impera, a inquisição se encolhe tolhida pelos raios do iluminismo, foi esta a decisão de várias nações que escolheram a liberdade de pensamento contra o absolutismo e o pragmatismo religioso. Mas o feudo de Angra é tradicionalista, cada vez mais medieval, cada vez mais entregue a instituições religiosas e ao julgo da aristocracia, cada vez mais autoritarista, mais poluído, mais censurado, mais sucateado, mais decadente, mais corrupto, mais criminoso. Mas com pracinhas lindas e muitos incompetentes ostentando títulos de nobreza, muitos mesmo. Inclusive esta é uma das características mais marcantes deste sistema medieval, as opiniões são compradas com cargos, contratos e anúncios. Haja erário. Esta é outra maneira de se fabricar zumbis, comprando seu bom senso.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Iluminismo, zumbis e cadafalsos

Uma onda iluminista ameaça os reis de Angra, em alguns feudos vizinhos déspotas absolutistas já estão caindo. A luz da sensatez começa a projetar seus raios, os bidimensionais corações da monarquia local tremem, seus asseclas de porta de calabouço correm esbaforidos aconselhando que seja fortalecida a velha lei do silêncio, para isso exigem mais moedas. Bobos da côrte fazem de tudo para distrair a massa aborígene enquanto nas fogueiras da vaidosa inquisição, documentos são calcinados lançando na atmosfera uma fumaça menos negra que corrupta. E do ponto de vista do futuro, já sabendo no que vai dar, observamos os zumbis que brincam de poder. Ignoram eles que o poder é uma coisa que nunca esteve em suas mãos. O poder verdadeiro é conquistado por merecimento, é desenvolvido sobre uma base sólida que se mantém sem dificuldades, com economia de energia, e não essa maçaroca turva desenvolvida às custas de mazelas e subornos. A plataforma do falso poder é como um cadafalso sob os pés do futuro enforcado.