terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pão e povo para o circo!!!

Como qualquer feudo típico, Angra apresenta algumas características marcantes de idade média, ausência quase que total de saneamento, valas negras espalhadas por seus distritos, surtos endêmicos de pestes, famílias nepotistas dominando a política, soldados mercenários servindo a quem tem mais dinheiro, religiões cada vez mais poderosas e influentes, pão e circo para o povo, superstições e crendices sobrepujando o conhecimento científico, educação falida, gravidez precoce, execuções sumárias, comerciantes escravagistas, obras faraônicas de compensamento fálico, imprensa comprometida com o poder, autoridades comprometidas com o dinheiro, queimadas, latifúndios, posseiros, traficantes, etc.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Cantores desafinados e Crianças grávidas

Hoje resolvi andar por entre os aborígenes, seres impressionantes, entregues a um cotidiano de injustiças e tristes alegrias. Espremidos em precário transporte público, enfileirados como gado a abater-se, nas quilométricas filas das precárias casas de saúde.
Entoando seus pobres cânticos religiosos, músicas de estética obscura, cantores desafinados, trazem consigo a idéia de que a pior das músicas expurga o pior dos pecados. Protejo meus ouvidos, a inquisição sonora também é cruel.
Um nobre flutua entre os transeuntes, sorrisos e reverências o acompanham até que ele suma em uma carruagem de vidro opaco. Dentro da carruagem, um menor, absinto e dinheiro público em vias de privatização.
Crianças grávidas, crianças descoladas sem escola passam por mim, falando um dialeto do crime, com orgulho, cuspindo balas perdidas. Percebo que há mais perebas em suas mentes do que em suas pernas.
Um surto está por vir, uma peste, os sensatos tentam avisar, mas seus avisos, chatos demais para quem tem preguiça de pensar, são abafados pela cacofonia de uma canção evangélica mesclada ao zumbindo chato de uma nuvem negra de mosquitos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O PROFETA DOBRA UMA ESQUINA

Nada impede que chamemos esta Angra de cidade das trevas, nem mesmo seus ensolarados dias de praia, que se tornam cada vez mais escassos, com balneários mais particulares e poluídos, e com seu céu mais nublado e choroso.
Como toda treva, esta abriga uma fauna diversificada de seres rastejantes e escamosos, parasitas sugadores que se alimentam de esperança, ignorância e status.
Apesar do alto nível de corrupção neste cantinho da idade média, grupos de guerrilheiros ideológicos, intelectuais preocupados e cidadãos de ilibada conduta, são vistos como uma vela no escuro a conduzir-nos no caminho da esperança. O último pleito deixou isso bem claro.
O poder da monarquia a cada dia diminui, nem o clero consegue sustentá-lo com a força inquisidora de antanho. Seus asseclas enrolam-se mais e mais nas tramas da justiça, os subornos tornam-se mais comuns e inflacionados, as bases do poder rangem sob o peso de seus egos pueris.
O fim está próximo, grita o profeta do futuro, e está dobrando a esquina, complementa.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Caravelas cheias de turistas

Uma vez perdi minha sanidade, talvez por vergonha de estar em Angra. Talvez pela síndrome do surto temporal. Não sei ao certo, tinha acabado de chegar, primeira incursão neste mundo proibido. Um turista, um recém nascido que mal acabara de pular do útero. E parado sobre a poça de líquido amniótico, olha pra parteira e pede um cigarro, fazendo aquele sinal com os dedos que indica preciso fumar.
A parteira era Angra, e ela me deu de fumar. Foi assim que cheguei aqui a primeira vez, velho, chato, entregue ao lamento, mas aí eu fui à praia e passou.
As praias de Angra sempre nos ajudam a esquecer, mas, praia do Anil não te esqueço, um dragão em forma de trator empurrando suas areias de um lado ao outro pra fingir serviço, a eleição passa, o dragão voa e minha sanidade que não volta. Cadê a porra do trator?
E como um viajante perdido do tempo sentei na areia da rua do comércio e esperei as caravelas voltarem pra me buscar.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ESFÍNCTER IDEOLÓGICO!

A morte paira sobre o feudo de Angra como uma saco plástico preto de lixo retalhado. Flamulando suas tiras sobre um mar hipócrita habitado por criaturas do mofo, por gente que perdeu o sentido de ser gente. Não podemos demonstrar espanto, somos apenas observadores nesta excursão ao passado, não alteramos sua história, sufocamos nossa indignação como quem prende gases num elevador, contraindo um esfíncter ideológico, tentando não atrair para nós a morte saco de lixo voadora.
Esta morte que não é aquela bonita dos guerrilheiros honrados, é a outra que vem acompanhada da ignorância e que mata primeiro a educação, a cultura e os sentidos da virtude. É aquela que também vem na compra de votos, na catequização dos aborígenes, na lavagem cerebral dos incautos e nas capas dos periódicos sensacionalistas.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Semeando Cabeças Decepadas

Percebemos que por aqui o divino mora só nas palavras, e que a crueldade é a monocultura vigente semeada todos os dias nas salas de aulas sem professores, nas belas praças de consumo de ópio e nos gabinetes corruptos da nobreza.
A cada semana, os periódicos do reino, contrastam elogios rasgados à dinastia e ao clero com as xilogravuras hemofílicas de cabeças decepadas e corpos imolados em vias públicas ou abandonados nos matagais da intolerância. A culpa destes crimes acaba sendo atribuída ao sobrenatural ou a guerras entre baderneiros que nada tem a ver com a realidade social do reino.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Lavagem de Tijolo

A primeira percepção que temos é a do domínio da população por uma inquisição caricata e de estética duvidosa. Igrejas nas mais variadas formas e tamanhos dominam a paisagem, mostrando um deus feio, construído em tijolo e ignorância, um deus surdo que obriga seus fiéis a gritar fazendo uso de apetrechos tecnológicos que não têm nada de divino em sua origem.
Aparentemente cerca de quase 50% dos aborígenes sofreram a lavagem, termo que iremos usar para definir este tipo de trabalho feito pela inquisição local. Significa que foram convertidos e que estão condenado a um futuro, ou melhor, neste caso, a um passado de penitências, dízimos e voto de cabresto.

sábado, 11 de outubro de 2008

Gigantes de metal e observadores calados

Por conta de alguns desvios na linha do tempo, este mundo convive com maravilhas tecnológicas contrabandeadas de um futuro alternativo. O que é um grande perigo, são como crianças manuseando armas de destruição em massa. Chegando em nosso destino percebemos claramente isso, monstros gigantes de metal e concreto anunciam que estamos em Angra dos Reis, e placas de boas vindas anunciam quem reina por aqui.
Felizmente se permanecemos calados e não esboçarmos reações de curiosidade, revolta ou nojo, poderemos passar desapercebidos e não correremos o risco de ser devorados durante nosso safari temporal.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O TÚNEL DO TEMPO NA RIO SANTOS

Bom dia senhores, os convido a uma viagem por um túnel do tempo. Por mais clichê que seja esta frase, não vejo melhor ilustração para o destino que os túneis da Rodovia Rio Santos reservam para nós.
As curvas na estrada nos servem como metáforas para as espirais psicodélicas clichês nas viagens temporais do cinema, a mata atlântica parece abrigar hominídeos primitivos ou dinossauros prestes a perseguir nossos veículos.
A linha cinza de asfalto que nos serve de máquina do tempo, corta o litoral, separando o paraíso do caos. Ao lado do mar os grandes castelos da realeza e nobreza. Do outro lado, enfurnados nos morros, as vilas feudais, reunindo operários, camponeses, massas de manobra sob a constante vigilância de senhores feudais, capitães do mato, inquisidores e traficantes.